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trouxeste o calor
em ondas de ar
quente com ardor
fresco só no mar
Agatha Christie conseguiu o impossível: desde a década de 1920 que escrevia mais de um livro por ano, e todos eles eram incríveis bestsellers mundiais. A sua imaginação prodigiosa, bem como o seu alucinante ritmo de trabalho, causam ainda hoje grande perplexidade.
Neste livro, John Curran desvenda os grandes segredos da Rainha do Crime: as origens dos seus carismáticos detectives e enigmas surpreendentes, enredos alternativos, cenas eliminadas, e até mesmo planos para livros que não chegou a escrever.
A investigação de John Curran revela uma grande quantidade de material nunca antes publicado, e inclui duas histórias inéditas: "O Incidente da Bola do Cão" e "A Captura de Cérbero".
o miúdo fazia birra porque queria ir para a praia construir castelos na areia. porque ficava com os calções cheios de areia. porque o mar estava gelado. porque a areia seca escaldava. porque à sombra estava frio. porque na maré vaza o mar ficava muito longe. porque a areia se colava à pele por causa do protector solar. porque as gaivotas lhe roubavam a comida das mãos. porque as uvas tinham grainhas. porque a melancia tinha muito sumo. porque o vento dava chicotadas de areia nas pernas. porque não tinha nada mau perder.
porque queria um gelado e a mãe não deixava por causa das birras constantes.
* nota negativa dada por um turista que por cá passou.
era uma vez.. um homem que vive o mesmo dia há infinitos. acorda às seis da manhã. toma um duche de água fria. vê o nascer do sol enquanto prepara o pequeno-almoço. café com gelo e um pão de abóbora e nozes com queijo. senta-se à secretária para ler as notícias no computador. sempre as mesmas. abre o sítio da Antena 2 e deixa a música a tocar.
de seguida, escreve numa página em branco, tudo o que lhe vem à cabeça. é um brainstorming solitário, onde nascem personagens e enredos. às oito entra em sintonia com as personagens e dá-lhes voz. escreve até à uma da tarde, quando lhe vêm trazer o almoço, do seu restaurante predilecto. mas já não lhe dá prazer, pois repete-se há infinitos.
ele é o observador da vida que passa. a única coisa que parece ser capaz de alterar é o enredo das suas histórias. já tentou partir de carro, de bicicleta, a pé. acorda sempre no seu quarto, naquela casa. após o almoço vai dar uma volta pela cidade, para arejar as ideias. aprendeu a ser bem-educado com os arrumadores que lhe vêm pedir um cigarro.
houve um período em que perdia a paciência. gritava: eu não fumo! zangado com a repetição do dia. calma, irmão! diziam os jovens, deixando-o em paz. perguntava-se se o dia deles também se repete. até que um dia o entregador do almoço lhe perguntou se não estava cansado daquele menu! estupefacto, respondeu que sim. então porque não muda?
e o fim dos infinitos aconteceu.
era uma vez um palhaço alegre. passava os dias na rua e transbordava de tanta felicidade que as pessoas, já habituadas à sua presença, davam-lhe dinheiro com o qual ele pagava uma enfermeira para cuidar da mulher. esta tinha muitas dores no esqueleto, mas nunca deixava de sorrir. era o segredo da alegria do palhaço.
a enfermeira ajudava-a a lavar-se, a vestir-se, levava-a a passear. por vezes a mulher cruzava-se com o palhaço e piscavam o olho um ao outro. todas as semanas ele comprava-lhe flores no mercado, no dia de abastecimento das floristas. flores frescas que duravam sete dias. ao fim-de-semana ele não pintava a cara e ficava irreconhecível.
eram os dias de folga da enfermeira e eles os dois iam almoçar fora e ao cinema ou ao teatro. com o passar dos anos a mulher do palhaço tinha cada vez mais dores. uma manhã chamou a enfermeira e o marido e pediu-lhes que tornassem possível ela partir por eutanásia. a alternativa era viver sedada com morfina, alheia à vida.
a enfermeira falou com o médico e este aceitou partilhar o peso dessa responsabilidade. no dia em que a mulher morreu o palhaço deixou de saber o que era a alegria. calcorreou as ruas a chorar até que um grupo de rapazes o agrediu para o roubarem, mas ele não tinha nada para lhes dar.
quando o abandonaram à sua sorte, a morte aproximou-se e acariciou-lhe o rosto. o palhaço voltou a sorrir. há horas que andava à tua procura! exclamou, então a morte levou-o para os braços da sua amada e viveram felizes para sempre.
a mãe fez magia negra enquanto estava grávida e a bebé nasceu velha, com um nariz adunco e uma verruga na ponta. a mulher estava aterrorizada e pediu magia branca à guardiã da aldeia. a anciã perguntou-lhe qual tinha sido o feitiço que tinha realizado. assustada a mãe explicou que o pai da criança a tinha abandonado grávida e ela, com raiva, tinha pedido para ele ver todas as mulheres velhas, com o nariz adunco e uma verruga na ponta, excepto ela.
só quando o verbalizou é que a mãe compreendeu o que tinha feito. a guardiã sorriu e disse: sabes o que significa? ele vem a caminho. a única magia necessária é amares a tua filha mais do que tudo na vida. mais do que ele? o amor da minha vida! a anciã suspirou e disse: sim! agora a tua filha é o amor da tua vida! quando o pai da criança viu a sua bebé naqueles preparos desatou num pranto sem fim. chorou dias a fio enquanto a mãe olhava a sua bebé, desamparada.
passaram meses e os progenitores não se podiam ver sem chorar. um dia a mãe estava a amamentar a sua filha e a bebé disse: mamã! a sua primeira palavra. a mulher sentiu o coração quentinho e exclamou: tu és o amor da minha vida! e o feitiço desfez-se. o pai correu para conhecer a sua filha e os seus olhos viram a bebé mais linda do mundo. a mãe só tinha olhos para a criança nos seus braços. o pai sentou-se em silêncio, na presença das duas mulheres da sua vida.